sábado, 29 de dezembro de 2012

#Spa-Francorchamps


Antes de começar, gostaria de agradecer ao Brunín que, involuntariamente, me incentivou a ir conhecer Spa-Francorchamps! =)

E foi assim que tudo começou: Acordei anteontem às 12h30 e pensei que não ia dar tempo de viajar mais... e então comecei a pensar, pra onde irei amanhã? Sem ter resposta, fui dar uma passeada pelo Twitter. Tava à toa e com preguiça de arrumar o pardieiro que eu chamo de casa (e que estava um pouco mais bagunçado que o normal depois do Natal). Vasculhando uns tweets antigos, me deparei com a seguinte conversa:

@ofrango Hoje tem GP da Bélgica? Sabe onde é?

@gasoares É em Spa-Francorchamps

@gasoares perto das cidades de Spa, Stavelot e Malmedy, na província de Liège, nas Ardenas #wikipedia

Taí! Perdi a corrida, mas ainda posso aproveitar que estou aqui pra visitar! Bom, foi quase isso. Fiquei bem triste, na verdade, ao descobrir que só há tour no circuito durante a temporada da F1 (março a novembro). A vontade de me matar por ter estado aqui de agosto a novembro e não ter tido essa brilhante ideia passou um pouco quando vi que havia um museu do circuito, em Stavelot (uma bostinha de nada no meio da Valônia!).

E eis que lá fui eu, forever alone e de madrugada (saí de casa 8h e estava escuro ainda!), pegar dois trens e um ônibus pra chegar no bendito lugar! Mas cheguei.

Abbaye de Stavelot
O museu do Circuito de Spa-Francorchamps fica na Abadia de Stavelot (Abbaye de Stavelot), um dos monastérios mais antigos da Bélgica e que também abriga o Museu histórico da região de Stavelot-Malmedy, o Museu Guillaume Apollinaire e atualmente a exposição Chocol@tes.

Paguei pra ver tudo no museu e até tentei, começando pela história da região e aprendendo tudo sobre um tal Wibald, um abade belga importante lá pelo século XII, mas o que eu queria mesmo era ver F1! Larguei a exposição pela metade, desci as escadarias e Voilà!

Só pra dar um gostinho!
Ali estava a história daquele que é considerado por muitos pilotos como “o circuito mais bonito do mundo”, inclusive pelo próprio Michael Schumacher, cuja frase decora o chão do hall de entrada. Uma grande exposição de carros de diversas categorias é o que se pode apreciar durante a visita, juntamente com fotos de momentos memoráveis do circuito, imagens de personagens que aí fizeram história e as próprias mudanças pelas quais passou o circuito ao longo desses 91 anos.

Formula Ford 1987

Dallara F396 1998; Bowman Formula 3 1992; Lola T292 1972.
Porsche 917K 1970. O que a Família Schumacher faz ali ao fundo??
Pois é, tem corrida de bicicleta!
Yamaha TZ 1976 e um protótipo de 1986.
Um monte de carros e motos!
Ferrari F40 1989. Essa nasceu junto comigo!

Apesar de ser o berço de várias categorias, o lugar é famoso mesmo pela Fórmula 1 – e talvez por isso grande parte do museu seja dedicado a explicar as partes mais importantes de um carro de F1 e a evolução ao longo dos anos.

E tudo começa pelo chassi: vèramente o esqueleto do carro, onde tudo se apoia: motor, suspensão, caixa de câmbio, carroceria... Com os chamados chassis monocoque, estrutura e carroceria se fundem em uma única peça, que lá no início era feita de aço. Depois disso, veio o chamado chassi tubular, que usava tubos metálicos mais leves soldados, primeiro em carros de competição e depois na produção de carros em série. Em 1962, um tal Chapman revoluciona o mundo automobilístico, usando novamente o chassi monocoque na sua Lotus 25, só que agora, tudo era de chapa de alumínio rebitado – bem mais leve. Além disso, chassi, componentes mecânicos e carroceria como uma única peça e moldável, permitiu a construção de uma carroceria bem mais aerodinâmica. O negócio era então mais resistente a deformação e mais leve que os modelos tubulares. #belasacada.

Cockpit antigo.
Depois do chassi, pneus!!! Todo fã de F1 sabe como essa questão é complicada... e a FIA tem sempre que meter o dedo pra atrapalhar tudo: só um fornecedor, dois tipos de pneu por corrida... Só esquecem de perguntar para os pilotos, maiores interessados, afinal, o pneu é o melhor amigo dele: essencial para o desempenho do carro, pra se manter na pista e pra sua segurança.

Os pneus foram inventados em 1888 por Dunlop, que introduziu uma carcaça de fios entrelaçados numa peça de borracha – nasceu assim o primeiro pneu a estrutura metálica! Pra satisfazer as exigências cada vez maiores das competições, os pneus são continuamente modificados quanto à química da borracha, o desenho, a largura e mesmo o peso das rodas. Como diria Gary Anderson: “Os pneus ditam tudo, se você não é bom para eles e exigir-lhes demais, você pode ter certeza de que terá problemas. É preciso monitorar, é disso que é preciso”.

Pra aguentar o tempo aqui, só com um bom pneu de chuva!

Já que falei de pneus, hora de introduzir a história dos pit-stops! Eu não fazia ideia disso, mas a ideia da parada no meio da corrida veio de um incidente com o Alain Prost. Em 25 de janeiro de 1982, no circuito de Kyalami, na África do Sul, o pneu do Alain Prost furou e ele fez uma parada para troca. Com isso, ficou a uma volta do líder. Mas, porém, contudo, entretanto, de posse de pneus novos e com uma melhor aderência à pista, Prost fez uma corrida de recuperação e terminou com o caneco na mão. E foi assim que Bernie Ecclestone introduziu nas corridas os pit-stops, permitindo a troca e a utilização de pneus de alto desempenho, mas de vida útil reduzida, e também o reabastecimento, de modo que agora os carros podiam entrar na corrida mais leves. O mais legal de tudo é saber que eles se tornaram a parte principal da estratégia de corrida, principalmente nesses últimos anos da Fórmula 1.

Curiosidade: para um pit-stop convencional (com troca de pneus e reabastecimento), são necessárias 29 pessoas: 12 mecânicos para trocar os pneus (três para cada, sendo um o “Gun man”, que cuida de desaparafusar e parafusar os pneus, um cara pra tirar o pneu velho e outro pra colocar o novo), 2 para levantar o carro, dois para reabastecer, 2 para limpar as entradas de ar dos radiadores, 1 pra cuidar da plaquinha que fica na frente do piloto (Lollilop Man), mudando de <<Breaks On>> pra <<First Gear>>, 1 pra limpar o visor do capacete do piloto e 1 técnico de vigília com um extintor de incêndio (e sempre que ele tem que entrar em ação é uma emoção à parte!).

Quando eu falei do chassi, mencionei a importância que o estudo da aerodinâmica da carroceria foi ganhando com os anos. A ideia é diminuir a resistência do ar e, com isso, a força contrária ao movimento e o consumo de combustível. Esses estudos começaram mesmo só em 1945, e só nos últimos anos é que o negócio avançou mesmo, com a utilização dos túneis de vento pra estudar o comportamento do carro. Os aerofólios, por exemplo, só foram ser usados em 1968, nos carros da Brabham, da Ferrari e da Lotus, pra literalmente segurar os carros na pista – em lá pro final dos anos 70 tornaram-se obrigatórios por medida de segurança. Agora, a forma cada um inventa uma...

Mas tem coisa que não dá certo, né? O chamado <<wing car>>  surgiu por ideia daquele mesmo Chapman da Lotus, em 1975, que percebeu que o mesmo efeito conseguido pelos aerofólios (de manter o carro no chão) poderia ser conseguido se o formato da carroceria fosse de uma asa invertida. O que ele fez? Abaixou o chassi e colocou o que eles chamaram de saias na base, de modo a canalizar o ar. Assim, à medida que a corrente de ar de acelera por baixo do carro, há uma queda de pressão que cria um efeito de aspiração. Com o carro colado no chão, o piloto pode fazer curvas em velocidades maiores. O único problema é que se esse efeito sumir, o carro corre o risco de decolar! E foi isso que causou a morte de Gilles Villeneuve em 1982 e acabou por proibir as tais saias.

Bom, mas de nada adianta tudo isso se o motor não for bom! A primeira ideia pra se melhorar os motores é, logicamente, aumentar o número de cilindros – com o pequeno inconveniente do aumento no volume do motor e do carro! Uma das maiores inovações, acredite, foi colocar o motor atrás do carro! Isso lá pelos anos 50 foi um baita de um avanço, pois aumentou a maleabilidade e permitiu uma melhoria também de aerodinâmica. Mas a pesquisa continua (e a briga dos fornecedores também), na tentativa de melhorar o desempenho, seja através do controle eletrônico, utilização de outros metais ou materiais especiais para a construção, ou mesmo achando a melhor mistura de combustível.

E por mais que algumas temporadas tivessem nos mostrado que a máquina era o elemento mais importante, a F1 volta um pouco no tempo pra mostrar que o piloto ainda faz a diferença. E apesar de ganhar rios de dinheiro, eles sofrem! Quem é que nunca ouviu o Galvão falar da bendita força G? Puxa pra cá, empurra pra lá... torcicolo é o de menos! Some a isso o stress, a alta temperatura no cockpit, os efeitos que acelerações e freadas consecutivas podem ter no organismo, na visão... Só com um bom preparo físico. E pra desempenhar bem o trabalho, ainda bem que eles contam com muitos equipamentos: o que começou com um boné de couro e óculos se transformaram em um capacete rígido que protege toda a cabeça do piloto – o que só foi conseguido com greve e muita reclamação por parte dos pilotos.

Hall da Fama?
E já que falei em pilotos... o museu tem uma sessão especial de tributo àqueles que marcaram época no circuito de Spa. Fiquei bem feliz de ver o Senna lá! Seu rosto está lá estampado junto com um resumo do seu currículo: uma trajetória incrível no automobilismo. A última frase abaixo de sua foto inclusive diz que ele é talvez, o piloto mais audacioso de todo o automobilismo. #orgulho. E está lá, ao lado de Alain Prost, Michael Schumacher e Jackie Stewart.

Em outra sessão, voilà o Senna de novo, ressaltando o seu tricampeonato e suas 41 vitórias na carreira, ao lado do Rubinho, que fez em Spa-Francorchamps a sua corrida de número 300, que o colocou na história como o piloto com o maior número de corridas (como eterna fã e defensora do Rubinho, podia ficar aqui falando por horas, mas é melhor não perder o foco!). Lá pertinho, alguns pilotos da Ferrari, com o Massa sendo descrito como detentor de numerosas vitórias e poles #informaçãoútil.

Rubens Barrichello comemorou a marca de 300 GPs em Spa, onde conseguiu a primeira pole da carreira. Ayrton Senna, tricampeão mundial, é o segundo maior vencedor da pista, com 4 vitórias.

Ferraristas.
Só não falei mesmo do circuito, né? Que coisa! A gente começa a conhecer o circuito de carona com Emerson Fittipaldi #galvãofeelings. Através de uma volta gravada pelo Emerson em 2012, conhecemos cada trecho do circuito e descobrimos o nome de cada uma das suas curvas. Não achei o vídeo, mas esse daqui é bem legal pra conhecer a pista:




O circuito fica na região de Ardennes, a mais bela da Bélgica, e, apesar de ter ficado pronto em 1921 para a sua primeira corrida, só foi usado no ano seguinte – para aquela primeira corrida só houve um único carro inscrito! As 24 horas de Framcorchamps começaram lá em 1924 e em 1925 o circuito foi o palco do Gran Prix Europeu. Mas aí veio a guerra e o circuito ficou parado por um bom tempo. Voltou por volta de 1947 e em 1970 viu a última corrida de Fórmula 1 no circuito original. A pista com 14km era de alta velocidade e com o crescente desempenho dos carros, oferecia muito risco aos pilotos. A situação se tornou insustentável, com vários acidentes acontecendo e pilotos afirmando que não mais correriam aí e foi assim que o traçado original foi mudado. As partes mais perigosas do circuito foram removidas e em 1979, a pista com 7km foi então inaugurada. Mais técnica e oferecendo mais áreas limpas, a pista manteve características do traçado original, mas com mais segurança para os pilotos e mais appeal aos espectadores. E foi assim que o GP da Bélgica voltou a fazer parte do calendário da Fórmula 1 e colocando esse pedacinho de nada do país no mapa internacional.

Na impossibilidade de ver o circuito original, tenho que me contentar com a maquete.


INFORMAÇÕES ÚTEIS:

Nome do circuito:
Circuit de Spa-Francorchamps
Primeiro GP:
1950
Número de voltas:
44
Comprimento da pista:
7.004 km
Distância da corrida:
308.052 km
Record da pista:
1:47.263 - S Vettel (2009)


Maiores vencedores:

Número de vitórias
Piloto
Anos
6
ALE Michael Schumacher
1992, 1995, 1996, 1997, 2001, 2002
5
BRA Ayrton Senna
1985, 1988, 1989, 1990, 1991
4
GBR Jim Clark
1962, 1963, 1964, 1965
FIN Kimi Räikkönen
2004, 2005, 2007, 2009
3
ARG Juan Manuel Fangio
1950, 1954, 1955
GBR Damon Hill
1993, 1994, 1998


Pra terminar, um joguinho!

Eu de Barrichello na Ferrari! #atual
“Larguei em último, tive um problema ainda na largada e tive que fazer uma corrida de recuperação. Acho que o 4º lugar foi um bom resultado. Fiz muitas ultrapassagens por fora e poderia ter tido uma colocação melhor, não fossem alguns problemas no carro, que saía um pouco de frente e, como a área de escape nas curvas 2 e 7 era pequena, acabei na brita. Mas foi um bom resultado e mostra que temos condição de lutar por melhores posições” 

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